28.6.08

Bandeiras



1984


Certa vez um amigo me falou que a bandeira é uma das invenções mais infelizes da humanidade. Foi criada para fazer sinais à distancia e logo passou a ter cores diferentes com o objetivo de identificar um grupo, demarcar sua área, afastar os desconhecidos e possíveis invasores. Em consequência logo surgiram as cercas, as fronteiras e os países.

Transformou-se num estandarte de guerra e, com o tempo, passou a ser um símbolo daquilo pelo qual devemos nos mobilizar, empenhar nossas esforços e até a vida.

Esse amigo é médico e dono de um hospital, na região metropolitana de Buenos Aires, onde eram regularmente abandonadas, durante a ditadura militar, algumas crianças pequenas, filhas de pais "desaparecidos". Ele e sua esposa adotaram duas meninas, que agora devem estar entre as netas em busca de suas avós da Praça de Maio.

12.6.08

Nada.

Nada tenho a dizer, mas mesmo assim tenho vontade de escrever.

Há pouco li o trigo cortado, que desnuda melhor a solidão. "Lindamente triste" - ou "tristemente lindo", como disse certa vez uma incerta criatura.

Pronto: escrevi. Matei a vontade que agora jaz aqui, antes do ponto final.

7.6.08

Tome ciência


Escrevo de vez em quântico, para enfraquecer as interações entre as partículas nunca elementares, tal qual se sabe.

Como eu já disse por aí, não quero ser João - mal me ouviste. Nem lembro do filme. Irrelevante, pois.



Solar.
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Também relativizo restritamente algumas palavras em alemão:
Tinha ein stein no meio do caminho.
No meio do caminho tinha ein stein.

Circunstancialmente, prossigo: fui cortar uma pizza em duas partes
e tinha uma azeitona com caroço no caminho da faca.

No meio do caminho tinha uma azeitona
tinha uma azeitona no meio do caminho
tinha uma azeitona
eu gosto de azeitonas e gostei do caminho
peguei a azeitona com os dedos e a coloquei na boca
onde tinha uma azeitona no meio do caminho ficou uma marca
cortei a pizza e ela sumiu
nunca esquecerei desse acontecimento
tinha uma azeitona no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma azeitona

Tome sem medo. É apenas um placebo.

6.6.08

Yeda, pede prá sair!

Quem diria que, um dia, eu diria: viva a polícia federal!

2.6.08

Eu quero ouvir um eco!

Então os Caiapós tocaram o facão no engenheiro. Índio é racista: não gosta de branco! Acho que se pudessem, atravessariam o oceano com uma frota de canoas e invadiriam a zoropa e matariam todo o mundo prá buscar espelhos, uísque, açúcar e outras coisas "legais". Índio pode tá "aculturado", domesticado, mas ainda é bicho que reaje, né? Tipo gato que tasca a unha no dono, cachorro que morde o dono quando mexem no osso dele, coisa de animal! E tem essa complicação da ministra que saiu porque não conseguia dar um jeito no madeiramento e que foi substituída pelo cara que vai tentar controlar o desarvoramento lá da amazônia. E tem o enxôfre que a gente respira 20 vezes mais do que na zoropa, que sai do canos dos veículos movidos por motores de combustão interna consumidores de diesel. Quem falou isso foi o Mink, esse bicho anfíbio. Diesel é o sobrenome do alemão que inventou o motor. Motor é legal, né? Trabalha prá gente! E agora tem o biodiesel, da cana e tal. Mas biodiesel não é sobrenome. E tem a tal de usina nuclear! Isso é o máximo! Olha o nome: "usina nuclear de Angra"! Angra, enseada, marina. Nuclear! Faz a gente encher o peito de orgulho! Maior barato! Tá certo que foi caro prá piriquita (isso é outro papo) mas dá o maior cartaz! E nem estraga nada, pois não precisa plantar, queimar, não sai fumaça. Só energia. E é igual a M vezes C ao quadrado, como disse o véio aquele, da língua de fora. Energia se transforma em matéria, e vice-versa, e versa-vice, na velocidade da luz e coisa e tal. Grita aí, no abismo, que eu quero ouvir o eco!

1.6.08

estou na margem. caminho na areia seca, terra miúda e clara. as lembranças ficam na água fria, boiando. afasto-me da margem e o vento e o sol retiram de mim cada gota de água. meu pensamento é flutuante e agora sou um pouco terra, um pouco vento e muito sol. não há mais vácuo mas não digo nada. não quero ouvir o que eu tenho a dizer. escrevo. sigo caminhando rápido mas nem percebo. pensamentos flutuantes. há tempos sei que reuniser é a busca de criaturar o novo vivo. estou quente de sol. gotas de água brotam em minha pele. mais água que se vai. sigo em frente. não olho para trás. vento. sede de reuniser.