água fria. lembrei que tinha lido umas coisas do marx, mas fazia tempo. lembrei disso enquanto boiava olhando o céu azul cortado em dois por um rastro branco de pessoas voadoras. na praia os pescadores entravam num barquinho. boiar é bom quando não tem ondas. deveria ter dito alguma coisa sobre a liberdade e a escolha, esse tal de lívre-arbítrio que realmente faz as coisas acontecerem, que é a reação à diferença entre as potencias. pensei nisso. um pensamento passageiro, apenas. tanto faz, agora. pensamento passageiro, como as pessoas voadoras. talvez ainda fale sobre essas coisas, ontem. hoje não dá mais tempo. agora o rastro está se desfazendo. algodão. é a única nuvem no céu azul. os pescadores estão longe, já. eu bóio. sou flutuante.
amanhã assisti o talvez novo ministro do meio- falando sobre o -ambiente. ele tem cabelos compridos e grisalhos. gostei da sua roupa. televisão. vai substituir a marina, parece. ele deve ser um porto natural, uma enseada protegida, esse homem com nome de animal. os pescadores irão atracar seus barcos nele, com certeza. o céu está manchado de branco. tem ventos fortes lá em cima. eu continuo boiando.
estou escrevendo, agora. mesmo flutuante, eu escrevo. aqui é cristalino. eu falo também, agora, mas é como se fosse no vácuo. alguém ouviu o que eu disse, agora? é o vácuo. ele suprime o som. minhas palavras escritas não desaparecem no vazio. e elas bóiam. elas são mais densas que o líquido. eu sou mais denso, também. o céu absorveu o branco com seu azul potente. o sol queimando hidrogênio. não sinto seu calor a não ser nos olhos. a água é fria mas não sinto frio. não dá tempo.
Um comentário:
Que lindo, preto.
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