No início pensei que era uma borboleta. Ela veio com a brisa e pousou perto de mim. Então começou a falar a língua das fadas e eu sorri. A brisa se foi e ela ficou. Esta é a história do meu encantamento.
30.4.08
28.4.08
O vazio, o farol e o cão
Tudo está vazio, há silêncios por todos os lados e um céu escuro cheio de nuvens. Numa fresta surge a lua, pouco mais que um fio crescente, logo escondida pelo movimento do céu. O banco vazio, a noite vazia e eu aqui, cheio de perguntas. Olho o farol e resolvo sentar no banco junto ao acesso à praia, para olhar o ritmo tranqüilo e circular da sua luz, que me atrai como um imã. O farol é calmo, em seu movimento contínuo. Assim também é o cão de pêlo claro que se aproxima sem receios e atende meu chamado amistoso. Ele fareja o saco de supermercado em que coloquei o par de tênis para andar descalço na praia e se acomoda junto a mim, receptivo aos meus carinhos. O cão é direto na sinceridade de suas intenções. Eu o acaricio e ele me olha com o olhar mais cristalino do universo pois sabe que meu sentimento é verdadeiro, assim como o dele. Dou-me conta como é fácil estabelecer um relacionamento sólido através do afeto, sem envolver razão alguma no processo. Criamos, nós dois, um momento especial, na noite vazia.
É um cachorro grande e forte, e muita gente teria medo de se aproximar de um bicho assim. Ele encosta a cabeça em meu colo e põe a pata em minha perna, num gesto surpreendentemente amoroso. Seu focinho é cheio de cicatrizes. O cão é tranqüilo, como o farol, como a noite e como eu, dali em diante. Depois de alguns afagos ele se afasta alguns passos e deita como um guardião silencioso, como um companheiro fiel de uma vida inteira. Esse cachorrão tem um olhar bondoso e altivo. Vou até ele e me despeço, afagando sua cabeça. Ele me acompanha por um quarteirão e ao chegarmos na esquina atrás do hotel um outro cão late desafiadoramente em nossa direção. Meu novo velho amigo apenas dirige um rápido olhar para o autor do latido e o desconsidera. Minha impressão é que, nitidamente, o outro é um velho conhecido que ele ignora por alguma razão canina. Ele segue em frente e dobra a esquina seguinte, sem sequer olhar para trás.
Resta a rua deserta, cheia de pontas sob meus passos nus, pípedos em nada paralelos que me espetam a caminhada. Mas a noite, agora, já não está mais completamente vazia. Percebo que minha mente está cheia de significados, após o farol com sua luz significante e após o cão carinhoso e amigo. Vou desviando, na pouca claridade dos postes, das desagradáveis saliências do calçamento irregular no caminho até a casa, poucas quadras adiante, massageando os pés e a alma.
Amanhã, pela manhã, correrei um pouco na praia, quase vazia de gente e repleta de aves marinhas, até além do farol, e caminharei outro tanto, na volta. Amanhã, encontrarei um pescador apanhando pequenos marisquinhos na beira-mar, para prepará-los com ovos e fazer pastéis, segundo me responderá. Verei as marcas que uma das aves deixará na areia úmida, quando alçar vôo para fugir de meus passos próximos. Duas marcas mais rasas e outras duas mais profundas, onde abandonará o chão rumo ao céu cheio de nuvens finas prenunciando o sol que em seguida me marcará a pele. Na areia, por todo o lado, verei as pegadas nítidas de um cachorro grande, mas não me ocorrerá que poderão ser do cão da noite vazia do farol.
Amanhã esquecerei o vazio, o farol e o cão, mas em algum lugar dentro de mim, no cantinho dos significados, para sempre eles estarão guardados.
em 30 out 2003
23.4.08
Calango com ascendente em Guaxinin!
E vocês aí, na nave-mãe, tentando controlar as naves-filhas sem sequer olhar pro céu! São controladores de vôo de meia tigela - isso sim! Lá fora, atrás dessa janela trapezoidal de cristalvidro prá lá de temperado, estão elas, luzindo seus milhares de anos-luz! São buracos na cortina da noite da nossa ignorância. E que belos nomes elas tem: Aldebaran, Rigel, Denébola ...! O mundo precisa saber que o verdadeiro zodíaco tem treze constelações e que os signos são outros? Acho que não. Nós dois - eu e outra criatura aí (que é genial, é claro), descobrimos ou inventamos isso, assim, numa natural e expansiva manifestação de nossos transbordamentos interiores e incontidos. Mas e daí? Alguém apresentou o zodíaco de doze e deu certo! Nós nem queremos que o nosso seja conhecido, não mesmo, nã-nã-não - somos modestos. Prá que? Deixa assim. Não queremos controlar ou deixar de ter surpresas. Umas das graças de viver é surpreender-se a cada dia, sem dúvida. E outra é ter dúvidas...
Calango, ascendente em Guaxinin, lua em Capivara! Já pensou? Imagina aí! E o meu marte em Teiú? Que tal? Sai da frente! Pode vir com vênus em Tracajá que eu dou jeito! Sou de Quero-Quero, com ascendente em Libélula! E nós dois? Cúspide, meio-céu, tudo certinho! Eita sinastria boa Pacaray! (recuerdos...) Só poderia dar nisso: descoberta ou invenção! Se a gente não fosse o que a gente é, a gente seria algo diferente, com certeza! Está tudo escrito nas estrelas - e com tinta fosforescente!
E para os de Bugio com ascendente em Anta, com aspectos de oposição e quadraturas espinhosas, eu ajudo dizendo que o décimo-terceiro signo é o Cerumano! Olhem pro céu e achem a constelação: é facinho! Tá na cara do mundo! E nem dói o pescoço, pois tá em 15 graus dorizonte, no é pinóquio de outono do é mistério sul.
Passa a régua, naves fora, segura a minha mão e aperta o botão da contagem regressiva! Chegou a hora da desastrologia!
18.4.08
Libélulas na beira do mar.
As líbélulas vão na beira do mar para morrer.
Descobri isso na semana passada, na praia. É estranhamente agradável estar só numa praia imensa e vazia. É possível observar coisas que passam despercebidas quando se está no meio do turbilhão se seres humanos.
Sempre vi libélulas na beira do mar, mortas, sendo devoradas por pequenos seres da areia molhada. Mas desta vez notei várias libélulas ainda vivas pousadas na areia, perto da água. Inicialmente pensei que estariam ali pelo calor da areia, o que era um risco grande por ficarem ao alcance das línguas das ondas e dos tais micro-crustáceos carnívoros. Meu raciocínio já estava construindo uma hipótese de mecanismo de seleção natural, eliminação de mais fracos e coisas assim, quando percebi que as libélulas estavam vivas, mas em fase terminal. Todas voltadas para o mar e imóveis. Tomei uma delas na mão e a coloquei pousada em meu dedo: ela abriu as asas como se fosse voar mas não o fez. Depois tentou e foi para o chão. Estava no fim.
Que propósito as trazia ali? O mar sempre me atraiu como um local de renascimento, de revigoração de minhas forças interiores. Sempre tive fascínio pelo oceano e mantenho íntimas relações com ele. Para mim é um outro universo, pulsante de vida e de belezas, onde mergulho fundo em busca de sensações e de novas experiências. É um lugar onde gosto de estar sozinho, para pensar e sentir que estou vivo. Teriam as libélulas uma atração semelhante? Estariam elas em busca de um renascimento, também?
Hoje pesquisei na net e soube que as libélulas vivem aproximadamente dois meses nessa forma alada, após suas inúmeras metamorfoses anteriores, que podem durar quase cinco anos. São dois meses de intensa vida e não me arrisco a afirmar que seja um tempo curto. Talvez elas venham para o mar para sua derradeira metamorfose. Ou talvez apenas saibam algo que não sabemos sobre os mistérios da morte e do mar.
Descobri isso na semana passada, na praia. É estranhamente agradável estar só numa praia imensa e vazia. É possível observar coisas que passam despercebidas quando se está no meio do turbilhão se seres humanos.
Sempre vi libélulas na beira do mar, mortas, sendo devoradas por pequenos seres da areia molhada. Mas desta vez notei várias libélulas ainda vivas pousadas na areia, perto da água. Inicialmente pensei que estariam ali pelo calor da areia, o que era um risco grande por ficarem ao alcance das línguas das ondas e dos tais micro-crustáceos carnívoros. Meu raciocínio já estava construindo uma hipótese de mecanismo de seleção natural, eliminação de mais fracos e coisas assim, quando percebi que as libélulas estavam vivas, mas em fase terminal. Todas voltadas para o mar e imóveis. Tomei uma delas na mão e a coloquei pousada em meu dedo: ela abriu as asas como se fosse voar mas não o fez. Depois tentou e foi para o chão. Estava no fim.
Que propósito as trazia ali? O mar sempre me atraiu como um local de renascimento, de revigoração de minhas forças interiores. Sempre tive fascínio pelo oceano e mantenho íntimas relações com ele. Para mim é um outro universo, pulsante de vida e de belezas, onde mergulho fundo em busca de sensações e de novas experiências. É um lugar onde gosto de estar sozinho, para pensar e sentir que estou vivo. Teriam as libélulas uma atração semelhante? Estariam elas em busca de um renascimento, também?
Hoje pesquisei na net e soube que as libélulas vivem aproximadamente dois meses nessa forma alada, após suas inúmeras metamorfoses anteriores, que podem durar quase cinco anos. São dois meses de intensa vida e não me arrisco a afirmar que seja um tempo curto. Talvez elas venham para o mar para sua derradeira metamorfose. Ou talvez apenas saibam algo que não sabemos sobre os mistérios da morte e do mar.
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