eu quero que tenhas o tempo
preta
para comigo divagar
quase pairar
e anestesiar tudo que estiver do lado de fora
5.5.10
sem título
22.8.09
22.10.08
18.7.08
Diálogo
- E aí, tudo Deleuze?
- Mais ou menos, a vida anda meio Spinoza, ultimamente.
- Todos temos um período Negri.
- Pois é. Ando muito Confúcio.
- Reaja! É preciso Focault em coisas positivas.
- É verdade. Em Kant a gente não faz isso, é difícil.
- Pois é. Descartes as negativas e vá em frente. Eu estou parando de fumar e tem sido Freud!
- Noam me Comte! Marx Deleuze!
- É. Mas quando bebo um Schopenhauer me dá uma vontade de Pitágoras!
- Resista! Sartre fora disso!
- Tô resistindo mas a tentação de Voltaire é enorme!
- Mas enfrente! Sinta o Agostinho de vitória de conseguir parar!
- Tá certo. Bom, vou indo, comer um Platão de comida e tirar uma Sêneca.
(Ins-pirado na Carrapatanga)
28.6.08
Bandeiras
Certa vez um amigo me falou que a bandeira é uma das invenções mais infelizes da humanidade. Foi criada para fazer sinais à distancia e logo passou a ter cores diferentes com o objetivo de identificar um grupo, demarcar sua área, afastar os desconhecidos e possíveis invasores. Em consequência logo surgiram as cercas, as fronteiras e os países.
12.6.08
Nada.
Nada tenho a dizer, mas mesmo assim tenho vontade de escrever.
Há pouco li o trigo cortado, que desnuda melhor a solidão. "Lindamente triste" - ou "tristemente lindo", como disse certa vez uma incerta criatura.
Pronto: escrevi. Matei a vontade que agora jaz aqui, antes do ponto final.
7.6.08
Tome ciência
Como eu já disse por aí, não quero ser João - mal me ouviste. Nem lembro do filme. Irrelevante, pois.
Solar.
.
Tinha ein stein no meio do caminho.
No meio do caminho tinha ein stein.
Circunstancialmente, prossigo: fui cortar uma pizza em duas partes
e tinha uma azeitona com caroço no caminho da faca.
No meio do caminho tinha uma azeitona
tinha uma azeitona no meio do caminho
tinha uma azeitona
eu gosto de azeitonas e gostei do caminho
peguei a azeitona com os dedos e a coloquei na boca
onde tinha uma azeitona no meio do caminho ficou uma marca
cortei a pizza e ela sumiu
nunca esquecerei desse acontecimento
tinha uma azeitona no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma azeitona
Tome sem medo. É apenas um placebo.
6.6.08
2.6.08
Eu quero ouvir um eco!
1.6.08
31.5.08
As Portas da Percepção
29.5.08
28.5.08
Olhos
26.5.08
O dia que não acabou
(Vitória/Rio, novembro de 2004)
23.5.08
17.5.08
passa tempos
tua mão abrindo o presente que não dei
teus olhos lendo o poema que não escrevi
teu coração sentindo o amor que não amei
nesta hora eu crio a realidade
teus ouvidos acolhendo sem dúvidas
as palavras delicadas que nunca direi
o beijo no corpo da alma que jamais beijei
depois do agora eu mergulho em meu oceano
estendo a palma ao sol
acalmo minha sede no vinho
e descanso na beira do caminho
e tu vês estrelas e luas
nos céus das noites vazias
escutas sussurros e risos
enquanto desperto nos meus dias
somente hoje eu te invento assim
por pura inspiração e vontade
neste momento és parte da verdade
e depois te dou um fim
10.5.08
A outra Clara
Ela se entregava à vida como uma gata se entrega ao sol, inebriada pelo calor e sem recear os predadores que a espreitavam das sombras frias ao seu redor. Ela sequer sabia o que era um predador e se deitava assim, lânguida e vagarosamente, sem medo de nada e aguardando pelos prazeres que, imaginava, o mundo tinha a obrigação de lhe trazer. Sob a luz, seus movimentos construíam posições e imagens provocantes, com suas alvas partes explicitamente expostas. Ela era perturbadora e atraente em sua mistura de sensualidade e inocência.
Clara era uma obra de arte cambiante, como se suas formas abrigassem um conteúdo raro e misterioso que complementava perfeitamente o prazer quase proibido que seu corpo prometia. Seu jeito tinha feitiço e eu me perdia nos detalhes de minhas vontades: retirar vagarosamente seus sapatos e as meias, descruzar suas longelíneas pernas, me embriagar em suas carícias, e assim por diante...
Clara queria quebrar as regras e revolucionar sua vida, mas ela própria se aprisionava: só tinha silêncios e poucos sorrisos. Só tinha redemoinhos de pensamentos em torno de si mesma e poucos momentos de águas serenas em sua mente agitada. Só tinha amigos incertos e nenhuma amizade verdadeira. Só tinha meus olhos capazes de tocar no fundo de sua alma, e nenhuma outra alma capaz de receber os seus olhares. Só tinha fantasias e nenhum sonho. Tentava ser o que o mundo não lhe permitia ser - e isso a deixava triste e solitária. Vivia somente no passado e no futuro, sem perceber que tudo acontecia no presente. Ela se deitava na cama e esperava a chegada de um príncipe encantado, que nunca chegava. Clara, no fundo, não sabia o que buscava e se conformava no inconformismo. E eu, ali, sempre por perto, registrando a magia de seus momentos, sem poder fazer parte deles.
Agora Clara está chegando à idade adulta e como não sabe, ainda, desviar-se, a primeira bofetada atinge-lhe em cheio o rosto liso e sem manchas, como uma chicotada vinda do nada estalando a realidade da dor de viver em sua face limpa. Uma pancada seca que se espalha numa ardência crescente e termina por escorrer em lágrimas para seu colo trêmulo. E eu não estou por perto para alcançar-lhe um lenço e confortá-la com meu abraço. Eu suspiro de impotência, enquanto as lágrimas regam sua alma.
Mas a vida é assim mesmo e ela apenas está pagando o preço para aprender a desviar-se, como todo o mundo. Daí para frente ela se entregará de uma forma diferente, com mais leveza, mais sorrisos e mais palavras. Clara se abrirá completamente para a vida e descobrirá a diferença entre a realidade e a ilusão, entre o possível e o inalcançável. Ela saberá, então, que seu futuro será construído somente com a sucessão de seus presentes, um após o outro, e que sua vontade tem mais poder do que as regras que ela mesma escreve. Ele se libertará de tudo que a limitava até agora e será feliz.
Daquele tempo restará apenas uma fotografia na parede dos meus sonhos, que poucas vezes lembrarei de olhar. Clara chegou, como eu sempre soube que chegaria, e eu parti.
8.5.08
Coisa linda!
Conheço uma mulher que acha lindo estar menstruada e essa é uma das coisas mais belas que já vi.
6.5.08
sonho
estranho caminho que sigo sem pensar
seguindo uma luz
lá longe
no horizonte do meu sonho
talvez de um farol
quem sabe
de minha estrela guia
ou
quem dera
do anjo que me conduz
ao despertar da minha fantasia
talvez eu possa te alcançar
luz infinita
e dormir em teu brilho cálido
sem precisar sonhar em te seguir
quem dera possa assim descobrir
ao abrir meus olhos
um outro mundo real
onde eu acorde em mim
sem precisar despertar de ti
2.5.08
1.5.08
30.4.08
28.4.08
O vazio, o farol e o cão
23.4.08
Calango com ascendente em Guaxinin!
Calango, ascendente em Guaxinin, lua em Capivara! Já pensou? Imagina aí! E o meu marte em Teiú? Que tal? Sai da frente! Pode vir com vênus em Tracajá que eu dou jeito! Sou de Quero-Quero, com ascendente em Libélula! E nós dois? Cúspide, meio-céu, tudo certinho! Eita sinastria boa Pacaray! (recuerdos...) Só poderia dar nisso: descoberta ou invenção! Se a gente não fosse o que a gente é, a gente seria algo diferente, com certeza! Está tudo escrito nas estrelas - e com tinta fosforescente!
E para os de Bugio com ascendente em Anta, com aspectos de oposição e quadraturas espinhosas, eu ajudo dizendo que o décimo-terceiro signo é o Cerumano! Olhem pro céu e achem a constelação: é facinho! Tá na cara do mundo! E nem dói o pescoço, pois tá em 15 graus dorizonte, no é pinóquio de outono do é mistério sul.
Passa a régua, naves fora, segura a minha mão e aperta o botão da contagem regressiva! Chegou a hora da desastrologia!
18.4.08
Libélulas na beira do mar.
Descobri isso na semana passada, na praia. É estranhamente agradável estar só numa praia imensa e vazia. É possível observar coisas que passam despercebidas quando se está no meio do turbilhão se seres humanos.
Sempre vi libélulas na beira do mar, mortas, sendo devoradas por pequenos seres da areia molhada. Mas desta vez notei várias libélulas ainda vivas pousadas na areia, perto da água. Inicialmente pensei que estariam ali pelo calor da areia, o que era um risco grande por ficarem ao alcance das línguas das ondas e dos tais micro-crustáceos carnívoros. Meu raciocínio já estava construindo uma hipótese de mecanismo de seleção natural, eliminação de mais fracos e coisas assim, quando percebi que as libélulas estavam vivas, mas em fase terminal. Todas voltadas para o mar e imóveis. Tomei uma delas na mão e a coloquei pousada em meu dedo: ela abriu as asas como se fosse voar mas não o fez. Depois tentou e foi para o chão. Estava no fim.
Que propósito as trazia ali? O mar sempre me atraiu como um local de renascimento, de revigoração de minhas forças interiores. Sempre tive fascínio pelo oceano e mantenho íntimas relações com ele. Para mim é um outro universo, pulsante de vida e de belezas, onde mergulho fundo em busca de sensações e de novas experiências. É um lugar onde gosto de estar sozinho, para pensar e sentir que estou vivo. Teriam as libélulas uma atração semelhante? Estariam elas em busca de um renascimento, também?
Hoje pesquisei na net e soube que as libélulas vivem aproximadamente dois meses nessa forma alada, após suas inúmeras metamorfoses anteriores, que podem durar quase cinco anos. São dois meses de intensa vida e não me arrisco a afirmar que seja um tempo curto. Talvez elas venham para o mar para sua derradeira metamorfose. Ou talvez apenas saibam algo que não sabemos sobre os mistérios da morte e do mar.




